Lana Del Rey: “Me permito ser colorida”

Quando ela explodiu em 2012, Lana Del Rey era uma personagem intocável e misteriosa cujas preocupações com o amor, América e símbolos antigos a lançaram como um ícone trágico de Hollywood no molde de, digamos, Marilyn Monroe. Mas aos poucos, ela se abriu e deixou as pessoas entrarem, e agora, com o novo sexto álbum ‘Norman Fucking Rockwell!’ surpreendendo, ela fala com Rhian Daly sobre as falhas da América, incêndios florestais, Donald Trump – e razões para estar feliz.

Esperar um encontro com Lana Del Rey é como esperar para avistar um unicórnio. Antes de ela chegar ao escritório da sua gerência — uma linda casa Hollywoodiana nas montanhas de Laurel Canyon que parece exatamente o tipo de lugar que ela poderia habitar, com ricas vinhas verdes alinhando seus exteriores e pilares gregos — é como esperar por uma figura mítica se materializar. Não seria um choque olhar para fora e vê-la relaxando na piscina azul-celeste, assim como as estrelas as quais ela canta. E quanto mais atrasado o horário de nossa entrevista, mais forte a expectativa.

As pessoas têm uma imagem de Del Rey que é quase uma caricatura: uma mulher melancólica e intocável, um ícone depressivo que pertence a outra época. Mas, na realidade, as coisas não poderiam ser mais diferentes. Talvez seja uma coisa da Califórnia, mas Lana tem um jeito despreocupadamente relaxado. Ela parece ter vindo direto da praia, seu cabelo castanho dourado, amassado no formato de ondas volumosas, que você só consegue ao mergulhar a cabeça no oceano.

Ela está atrasada não porque se acha superior, sem necessidade do conceito de tempo, mas porque passou horas dirigindo do norte de San Diego, onde mora “algumas vezes”, para esta casa na colina atrás do Chateau Marmont, na caminhonete preta que está estacionada na garagem. Enquanto se acomoda em um sofá verde escuro, ela segura um vape quadrado e robusto coberto de plástico holográfico rosa em uma mão e um café na outra.

A felicidade (ou a falta dela) tem sido um tema constante na história de Lana, em parte porque a tristeza aparece com tanta frequência em suas músicas. Também é porque a obsessão do mundo em descobrir seu estado mental sempre aparece quando ela lança algo novo. “Sempre. Sempre”, ela concorda com um pequeno revirar de olhos. “Mas não posso ser totalmente ingênua e dizer: ‘Por quê? Por que eles [fazem isso]?’”

E, como era de se esperar, uma semana depois de nos conhecermos, os fãs se encontram vasculhando o novo álbum ‘Norman Fucking Rockwell!’ – que leva o nome do ilustrador e autor americano que, como Lana, registrou a cultura americana em seu trabalho – em busca de pistas sobre seu emocional.

Na capa de seu quinto álbum, “Lust For Life”, de 2017, Lana ostentava um sorriso radiante e flores no cabelo. O mundo parecia surpreso que ela pudesse ser feliz agora. Em contraste, a capa de “Norman Fucking Rockwell!” é um pouco mais urgente. Del Rey está em um barco com um braço em volta do neto de Jack Nicholson, Duke, o outro estendido para a câmera. À distância, você pode ver dezenas de incêndios iluminando a Califórnia e cobrindo-a com fumaça espessa. É como se ela estivesse tentando puxá-lo a bordo e guiá-lo para a segurança com eles.

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Ser rotulada como uma “garota triste” não é algo que realmente incomoda Lana. “Sinceramente, agora eu acho engraçado”, ela diz, olhando para fora das portas francesas. “Eu não sou apenas uma coisa. Eu não estou alegre o tempo todo. Mas ser capaz de expressar minha tristeza às vezes me deixa realmente mais alegre do que algumas pessoas que eu conheço, porque eu me dei permissão para ser colorida.”

Você pode interpretar a opinião pública sobre sua expressão descontente nos vídeos, por exemplo “Video Games”, como uma visão das expectativas das pessoas em relação às mulheres. O comentário sobre seu humor é o equivalente, no mundo de popstars, de homens achando que não tem problema dizer a mulheres desconhecidas que elas devem sorrir. Del Rey diz que não é tão simples assim. “É um pouco disso, mas as mulheres também foram bem duras comigo”, diz ela. “Novamente, acho que isso diz mais sobre elas mesmas — [as mulheres são] duras consigo mesmas.”

Del Rey não é a única artista moderna a ser pintada como essa figura perpetuamente taciturna por causa da melancolia que vive em sua música. Se ela fosse considerada a rainha do baile da tristeza, James Blake provavelmente teria sido nomeado rei. No ano passado, ele rejeitou o rótulo de “menino triste” atribuído a ele, chamando a frase de “doentia e problemática” e prejudicial ao discurso sobre a saúde mental masculina. Del Rey sente o mesmo sobre o rótulo que está sendo imposto a ela. “Eu realmente nunca senti que muito do que as pessoas diziam sobre mim ressoava com o que eu sentia no meu âmago”, diz ela. “Eu achava legal que eu estava apenas no meu processo e, em algum momento, eu provavelmente chegaria a algum tipo de platô onde o som se completaria e se transformaria em outra coisa. Era um pouco estressante ter pessoas querendo que eu fosse de um jeito para sempre, mas, quero dizer, é uma vida. Há uma vida lá dentro e isso está sempre evoluindo e definitivamente para melhor.”

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Hoje em dia, Del Rey passa muito tempo na estrada, orbitando em torno de Los Angeles enquanto escapa para o norte ou para o sul, mas sempre retornando para a cidade. Estar atrás do volante desempenhou um grande papel na formação de “Norman Fucking Rockwell!”, lançado na semana passada, e suas letras são pontilhadas com localizações geográficas como alfinetes sendo empurrados em um mapa. Cada uma marca contos vividos em cada local – Laurel Canyon, Venice, Santa Ana, Topanga, Malibu, Long Beach, Newport, Sunset Boulevard, Hollywood e Vine, a PCH e a rodovia 405. No Instagram recentemente, ela exibiu um colar que fez em Beverly Hills, uma barra de ouro estampada com “wild at heart” na parte de trás e as coordenadas de Los Angeles na frente. Esta nova-iorquina fez o que muitos  juram que nunca farão – entregou seu coração ao Golden State.

“É simplesmente meu lugar favorito”, diz Del Rey, exalando uma nuvem de fumaça de vape. “Há muito espaço para descobrir tudo. San Fran é bem diferente – Jesus, as coisas estão tão calmas para mim em San Francisco agora. É uma maneira tão interessante e tranquila de ser.”

Uma música em ‘Norman Fucking Rockwell!’ pode fazer você pensar que a vida na costa oeste não é a cura para tudo que as pessoas dizem que é. Em ‘Fuck It, I Love You’, ela suspira, “Eu me mudei para a Califórnia, mas é só um estado de espírito/Acontece que para onde quer que você vá, você se leva/Isso não é mentira,” como se as expectativas de um brilho mental pós-mudança não tivessem sido atendidas. Em vez disso, ela a descreve como sua “música mais desonesta”, cantada como se fosse sobre ela mesma quando na verdade é sobre uma amiga.

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“Se eu tivesse sido super honesta naquela música, eu teria dito, ‘A Califórnia é mais do que apenas um estado de espírito. É tudo incrível pra caralho’”, ela diz, embora admita que deu trabalho para se sentir assim. “Se você está se mudando para uma cidade grande, vai levar alguns anos. Redobre seus esforços para fazer amigos porque eles não vêm até você, simplesmente. Você tem que farejá-los como um pequeno cão de caça. É difícil, mas eu realmente amo isso aqui.”

Seu rosto sugere que ela mesma sentiu essa luta, mas ela diz que se dá bem com seu “pequeno punhado de amigas”. Elas viajam pelo estado juntas e servem como uma caixa de ressonância para Del Rey quando ela está trabalhando em música. “[Neste álbum], eu tocava coisas para elas e ver o quanto elas gostavam me deixava realmente confiante de que era bom”, ela diz.

Alguns dos outros amigos que Del Rey fez em Los Angeles incluem The Last Shadow Puppets. Ela foi vista em vídeos em bares de karaokê com Miles Kane e Alex Turner, ela e Kane cantando “Tiny Dancer” de Elton John enquanto o vocalista do Arctic Monkeys dançava entre eles. Alguns dos membros periféricos daquela banda (Zach Dawes, Loren Humphrey e Tyler Parkford) aparecem em “California” de “Norman Fucking Rockwell!”. “Tínhamos uma pequena banda de rock paralela”, ela explica. “Não deu em nada, mas nos divertimos.”

Então, ela casualmente solta que o grupo, que também incluía Kane, fez um álbum inteiro juntos. “Acabou que nunca…” ela começa quando perguntada quando podemos ouvi-lo. “Nós éramos muito bagunceiros! Mas é legal que ‘California’ tenha entrado [no álbum] – eu sinto que é um pedacinho de nossa amizade como banda.”

Seu próprio disco apresenta o balanceio de ‘Doin’ Time’, um tributo aos icônicos punks de ska de Long Beach, Sublime, cujo vocalista Bradley Nowell compartilhava uma predileção semelhante à de Del Rey por escrever sobre a Califórnia e seu lado mais decadente. Embora ela os ame agora, ela diz que eles não eram uma grande banda para ela enquanto crescia. Nowell morreu de overdose de heroína em 1996, quando ela tinha 10 anos, e levou mais 10 anos para descobri-los por si mesma.

“Eu realmente não conhecia música legal até ficar um pouco mais velha”, ela ri. “Acho que ‘Santeria’ foi a primeira música deles que ouvi, em algumas festas da faculdade, me sentindo muito sexy. Eles eram uma banda única. Há algumas histórias muito legais sobre eles por aqui, como quando foram convidados para serem a atração principal de vários festivais importantes e não apareceram porque estavam dormindo.

Você pode imaginar que Del Rey esteja criando seu próprio legado, mas sua vida pessoal, ela insiste, é bem regular — uma mistura saudável de criatividade e tempo com amigos. Passeios de carro (“dirijo muito mesmo”, ela diz), as noites de jogos com seus amigos, as viagens ao parque com seus cães e sua irmã fotógrafa e diretora Chuck Grant, a escrita de poesia, a natação e as filmagens das coisas que ela vê enquanto voa entre Los Angeles, San Diego, San Francisco e outras comunidades ao longo da costa.

“Sou uma grande cronista”, ela explica. “Passo muito tempo apenas capturando coisas, até mesmo pelo telefone. Quando os incêndios florestais estavam acontecendo [em 2018], eu queria entrar em um avião, ver e filmar.” Como se quisesse reforçar seu ponto de vista, um dia antes ela postou um vídeo sincero em seu Instagram de uma conversa sobre alienígenas, em um barco com luz verde.

Del Rey nunca foi de se esquivar de contar ao mundo como se sente, seja em suas músicas, entrevistas ou nas redes sociais. Ano passado, ela entrou em uma breve briga no Twitter com a rapper Azealia Banks, durante a qual ela tuitou a icônica frase: “Você sabe o endereço. Aparece, a qualquer hora.” Banks nunca apareceu. E antes disso, houve o incidente que gerou a tal treta — a posição de Del Rey sobre a maneira como Kanye West estava defendendo o presidente Donald Trump.

“Trump se tornar nosso presidente foi uma perda para o país e seu apoio a ele é uma perda para a cultura”, ela escreveu em um comentário sob uma das postagens do rapper no Instagram em outubro passado. Na nova música ‘The Greatest’, ela faz alusão a essas palavras nos versos “Estou enfrentando a maior/A maior perda de todas/A cultura está acesa e se for isso, eu me diverti muito.” Mais tarde, ela menciona West diretamente enquanto canta: “Kanye West está loiro e se foi.”

“Eu não queria”, ela diz agora sobre aquele momento. “Eu não gostei de ter apertado ‘enter’. O comentário dele parecia tão ousado, imprudente e autoconfiante, e estava falando sobre alguém – o presidente – que gerou muito ódio dentro da cultura. Eu sinto que há um descuido ali para não ver que houve um aumento de maldade [espalhada] por certos apoiadores.

Enquanto ela fala sobre o momento, ela não parece ter resolvido completamente como se sente sobre estar envolvida naquela conversa. “Não me arrependo de ter feito isso”, ela afirma, “Mas não é fácil. Eu realmente não sei. Foi como eu me senti, mas, você sabe, tanto faz.” Isso pode soar leviano, mas há uma paixão em suas palavras no Instagram e em seus olhos agora que sugere que ela só falou porque realmente se importa.

A musicista de 34 anos se apresentou no casamento de West com Kim Kardashian em 2014, mas quando perguntada se ela era próxima dele antes de falar, ela responde: “Eu diria para nós que viemos depois, ele era muito importante. E então tem isso. Mas eu simplesmente gostava dele.” Ela o viu ou falou com ele desde então? Ela interrompe o contato visual e olha pela janela novamente, folheando seus últimos 10 meses de memórias. “Não…?” ela responde, prolongando a palavra, com um sorriso irônico se formando em seus lábios enquanto o faz.

Política é algo sobre o qual Del Rey começou a tratar recentemente. Antes de “Lust For Life”, ela era frequentemente criticada por não falar sobre coisas importantes no mundo. “As pessoas ficavam chateadas antes quando eu não dizia nada”, ela diz, antes de oferecer suas justificativas para estar focada em outros assuntos. “Nós não tínhamos Trump como presidente antes. Havia menos a dizer. Eu cresci com Obama e éramos felizes em Nova York. Nós éramos realmente, realmente felizes com tudo. É disso que eu acho que as pessoas sentem falta. Nós tínhamos chegado a um ponto em que podíamos nos concentrar na música e nas artes. Foi ótimo.”

Em ‘Coachella – Woodstock In My Mind’ de ‘Lust For Life’ ela escreveu sobre ir ao Coachella enquanto as tensões entre os EUA e a Coreia do Norte aumentavam, e em ‘When The World Was At War We Kept Dancing’ perguntou se a presidência de Trump significava o fim da América. Ambas as músicas sinalizaram uma mudança em sua composição. Mas ‘Norman Fucking Rockwell!’ não dá continuidade a isto, com a política aparecendo apenas brevemente no verso final de ‘The Greatest’.

Três semanas antes do lançamento do disco, no entanto, uma nova música surpresa apareceu online. ‘Looking For America’ veio depois de dois tiroteios em massa consecutivos: um em El Paso, Texas, e outro em Dayton, Ohio, no qual um total de 32 pessoas foram mortas. Nela, sobre uma guitarra dedilhada quase imperceptível, ela canta: “Ainda estou procurando minha própria versão da América/Uma sem a arma, onde a bandeira pode voar livremente/Nenhuma bomba no céu, apenas fogos de artifício onde você e eu colidimos.”

Del Rey diz que foram esses dois tiroteios em particular, dentre os muitos que acontecem regularmente nos Estados Unidos (de acordo com o grupo sem fins lucrativos Gun Violence Archive, houve 283 tiroteios em massa nos Estados Unidos em 2019 até 1º de setembro), que a fizeram escrever essa música, por causa da intensidade com que as pessoas reagiram.

“O país ficou extremamente desolado e aterrorizado de que em 24 horas teríamos tiroteios em massa tão grandes”, ela diz. “Eu estava recebendo telefonemas de pessoas que eu não esperava e pessoas chorando — pessoas realmente fortes e normais. Todo mundo está realmente nervoso sobre levar a família para sair. Parece clichê, mas não é uma piada. Era apenas o momento [de dizer algo].”

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Quando as estrelas pop começam a se intrometer na política, especialmente em assuntos como controle de armas, elas geralmente são instruídas a se ater à música. Sugira que ela pode ter enfrentado qualquer reação negativa por seus passos nesse campo e ela franze o rosto. “Eu não ouvi tantas coisas negativas depois que escrevi as músicas”, ela diz. “O que eu aprendi é que as pessoas gostam.” Talvez ela esteja certa — os comentários na versão do YouTube de “Looking For America” ​​são em sua maioria positivos, exceto por alguns que dizem coisas como: “Isso não é Lana cantando e ela provavelmente ficaria chocada com a ideia de sua própria voz denunciando o porte de armas.”

Olhando para a eleição presidencial de 2020 no próximo outono, a questão-chave que precisa ser abordada, na visão de Del Rey, é a saúde mental. “A questão sobre ‘Looking For America’ é que não se trata apenas do direito dos cidadãos de portar armas”, ela explica. “Eu entendo isso. É que as pessoas não conseguem se retirar e olhar para o quadro geral e pensar: ‘Começa com isso’. Não há nenhuma abordagem à saúde mental. Sim, há a arma, mas isso não significa que qualquer um deva ter permissão para ter uma.”

No momento, ela não tem certeza de quem ela acha que seria melhor para lidar com essa preocupação enquanto desafia Trump no ano que vem, mas ela está “ouvindo todo mundo”. “Qualquer um seria melhor”, ela acrescenta com uma risada seca.

Para Del Rey, os eventos dramáticos que se desenrolaram no último ano ou mais — os incêndios florestais históricos, o susto da bomba nuclear no Havaí causado por uma mensagem de alerta errônea — refletem o que estamos colocando no mundo. “O presidente é um reflexo da cultura, a cultura é um reflexo do nosso relacionamento conosco mesmos e, claro, a natureza é nosso grande refletor e equalizador”, ela diz. “Talvez isso seja um pouco metafórico, mas provavelmente não é coincidência que esteja chovendo fogo por todo lugar. Li uma legenda sobre a Amazônia que dizia que os pulmões do nosso mundo estão queimando. Isso me faz pensar qual é o nosso coração?”

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Desde que ela estourou com ‘Video Games’, Del Rey tem sido uma exceção no mundo pop, mantendo-se sonoramente separada de seus pares. É surpreendente, então, que em ‘Norman Fucking Rockwell!’ ela tenha escolhido trabalhar com Jack Antonoff, vocalista do Bleachers e produtor que trabalhou com Lorde, Taylor Swift, Carly Rae Jepsen, Sia e Pink. Embora ele não ofusque as mulheres com quem trabalha, há um som pop definitivo de Jack Antonoff – um tipo cintilante de euforia enganosa – que tece seu caminho através da maioria dos discos em que ele está envolvido. Se Del Rey já tivesse conquistado seu próprio espaço muito específico na cultura, como seria se juntar a alguém com uma obra igualmente alternativa, mas tão oposta?

“Jack me segue muito — não sei como é com ele com outras pessoas, mas ele gostava que eu soubesse para onde estava indo”, diz ela. Os dois se conheceram em uma festa e foi ele quem estendeu o convite para trabalharem juntos. “Ele me perguntou se eu queria ir ao seu estúdio em Nova York e eu disse que não tinha nada para escrever”, explica ela, mas ele insistiu que eles poderiam fazer algo juntos se ela apenas lhe desse algumas horas. A maneira como ela conta a história faz parecer que ela estava bastante indiferente sobre a oferta dele na época, mas ela aceitou mesmo assim e ficou surpresa com o que encontrou. “A sensibilidade dele é um pouco mais tradicional e acústica do que eu pensava. Isso foi muito bom porque algumas das minhas músicas nos meus diários já tinham oito minutos e eu não queria condensar nada. Ele dizia, ‘Dez minutos?! Tudo bem!’ Ele é como um humorista.”

Esse desejo de fazer épicos extensos, como o de quase 10 minutos “Venice Bitch”, está a um mundo de distância das músicas que apareceram no álbum de estreia de Del Rey. Não “Born To Die”, mas o anterior – aquele que viu seu apelido escrito “Lana Del Ray” e foi retirado das vendas após três meses porque, de acordo com a cantora, a gravadora com a qual ela o lançou não tinha condições de financiá-lo (as músicas são fáceis de encontrar no YouTube). Quer estivesse amplamente disponível ou não, esse disco – com seu drama de Nancy Sinatra e estranhos tiques experimentais – foi o início de tudo isso para ela e o início de muitas mudanças.

O disco vai comemorar seu 10º aniversário em janeiro. “Uau!”, ela diz quando lembra disso, então tira um segundo para fazer um balanço do que mudou entre então e agora. “Eu sou tão diferente quanto sou a mesma”, ela conclui. “O que é extremamente diferente e extremamente o mesmo, em um aspecto criativo. Eu cantava antes de falar, então cantar é uma verdadeira vocação para mim, mas o resto da minha vida é como… nossa! Estou surpresa com o quanto isso muda o tempo todo.”

Para alguém tão fortemente ligado à atração cor-de-rosa da nostalgia, pode surpreender que o passado não seja onde a mente de Del Rey reside naturalmente. Em vez disso, é o futuro que ela diz que frequentemente pensa. “Eu tenho que me esforçar para estar super presente”, ela explica. “Se eu sei que tenho um show no Hollywood Bowl, minha mente está naquele palco até eu chegar lá porque eu quero que vá bem, e então eu estou pensando em outras coisas aleatórias. Eu tenho que fazer mais do que a maioria das pessoas para permanecer no presente. Eu tenho que correr.”

No futuro imediato, Del Rey tem a primeira parte de sua turnê ‘Norman Fucking Rockwell!’, um novo álbum chamado ‘White Hot Forever’ já em andamento e a música tema para o novo reboot de ‘Charlie’s Angels’ a caminho. Nela, ela aparece ao lado de Ariana Grande e Miley Cyrus no que é uma combinação de ícones que a maioria das pessoas não associaria imediatamente. Grande e Cyrus podem parecer uma dupla natural, mas Del Rey diz que parece que ela é de outro mundo para as duas.

“Ariana e eu nos conhecemos há um tempo e trocamos mensagens de vez em quando”, ela diz. “Ela me pediu para fazer isso e eu fiquei tipo, ‘É, deixa eu ver se consigo preparar algo para sua pequena ponte.’ Eu amo o disco dela, então foi fácil dizer sim.”

O trio gravou suas partes separadamente, então a primeira vez que ela conheceu Cyrus foi no set do videoclipe, que ela descreve como “muito engraçado e legal”. “Eu não estava nervosa para conhecê-la”, Del Rey ri, “mas eu não sabia que ela era tão ousada, apenas falando o que pensava”. Ela sussurra essa última parte e estala os dedos ao mesmo tempo. “Foi definitivamente diferente para mim, mas meio que se encaixou de alguma forma”.

O nome de Ariana é um que surge algumas vezes durante nossa conversa e é claramente alguém que Del Rey respeita. Ao discutir o longo fluxo de singles na preparação para ‘Norman Fucking Rockwell!’, ela credita a “reatividade” de Grande por fazê-la se sentir “mais confortável em lançar as coisas como eu queria e como elas aconteceram”. Mais tarde, quando falamos novamente sobre ‘The Greatest’ (ela responde em um sotaque de valley girl), Ariana é uma das duas artistas que ela cita pelo nome como tendo sua aprovação (a outra é Billie Eilish, alguém que fez algo semelhante a Del Rey e esculpiu seu próprio nicho cultural inimitável).

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“A energia da Ariana é super interessante para mim”, ela oferece como uma das razões pelas quais gosta dela. “Ela é muito rápida. Não há muito tempo entre um pensamento e ação. Há algo para eu aprender ali.”

Quanto ao resto da cultura pop em 2019, Del Rey está “por dentro”. A única outra coisa que ela destaca como algo que está gostando agora é “todos os rappers que sussuram”, incluindo Lil Uzi Vert, Juice WRLD e 21 Savage. “Parece sexy e autêntico”, ela se entusiasma. “Estou curtindo. Pessoalmente, estava esperando novos artistas e eles estão todos aqui. É incrível.”

Enquanto o sol da Califórnia se põe atrás das enormes árvores do outro lado da piscina, uma batida na porta nos diz que é hora de encerrar. Terminada a entrevista, Del Rey vira o jogo, fazendo perguntas sobre a vida freelance enquanto juntamos nossas coisas. Ela parece estranhamente interessada, traçando paralelos entre minhas respostas e os conselhos que dá à irmã. Enquanto nos despedimos, ela abre outro grande e caloroso sorriso, dando um golpe final na persona indiferente que é constantemente projetada nela. Lana Del Rey não é quem você pensa que ela é – ela é muito mais que isso.

DALY, Rhian. Lana Del Rey: “I give myself permission to have a lot of colours”. NME, 2019, tradução por André Rocha. Disponível em: <https://www.nme.com/big-reads/lana-del-rey-interview-normal-rockwell-big-read-2544895>. Acesso em: 1 de Janeiro de 2025

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