Lana Del Rey: O poder da persona no impacto cultural.
Nascida Elizabeth Grant, Lana Del Rey deu seus passos para a ascensão de uma estrela, e talvez, tendo intenção ou não, ela acabou se tornando a mãe de uma geração de jovens e saudosistas. Ela mostrou toda sua capacidade artística logo na sua estreia, com o álbum “Born to Die” de 2012, nos trazendo uma visão melancólica, vulnerável e cheia de um encanto da old Hollywood. O álbum impactou muitas pessoas, trazendo a ela uma multidão de fãs, e até hoje é um dos álbuns mais populares da cantora, se mantendo há 544 semanas nos charts da Billboard 200. Lana remou contra maré de críticas e estranheza para assinar seu nome numa estética diferente, totalmente voltada ao vintage e ao introspectivo.
A PERSONA DE LANA DEL REY:
Lana Del Rey traz seu embargo cultural em meio a sua persona que é forte e chama atenção. Em algum momento, você já ouviu alguém falar “Isso é tão Lana Del Rey!” Lana nos traz menção da antiga Hollywood, seu melhor e seu pior, seu glamour e sujeira, uma mulher tentando sobreviver em meio à bagunça mental, relacionamentos abusivos, álcool e drogas. Mas não se deixe enganar, por meio da sua persona, Lana nos faz refletir que nem tudo é dinheiro, e que a beleza e o poder não duram para sempre. Em National Anthem após dizer que o dinheiro é a chave para o poder e sucesso de vida, ela desabafa:
“É uma história de amor para a nova era, para a sexta página. Estamos numa agitação rápida e doentia. Ganhar, jantar, beber e dirigir. Compras excessivas, mortes por overdose. Nas nossas drogas, no nosso amor, nos nossos sonhos e na nossa raiva, desfocando os limites entre o falso e o real. Escuro e solitário, preciso de alguém para me abraçar.”
Lana parece ter escolhido dedo quem iria reverenciar na sua estética: James Dean, Marilyn Monroe, Elvis Presley e Priscilla Presley, além de John Kennedy, são citados, incorporados e homenageados por Lana em suas canções e clipes. No clipe de Lust for life Lana pula do letreiro de Hollywood numa referência ao trágico fim da atriz Peg Entwistle. Entre essas referências, Lana faz comparações aos seus sentimentos profundos. Com suas roupas da década 50/60, seus penteados, coroas de flores, unhas vermelhas e cigarros, Ela nos toca com suas palavras e nos seduz a esse mundo caótico e atraente.
COMO A LITERATURA CONTRIBUIU PARA A PERSONA DE LANA:
Lana também nos trouxe não só a referência visual, mas também a sua referência e embargo literário para suas canções, que soam como poesias rodeadas de sonhos em meio a realidade. Vale ressaltar que Lana lançou em 2020 um livro de poesias “Violet Bent Backwards Over the Grass” onde ela continua derramando sua filosofia de vida, dessa vez uma forma crua e realista. Nas suas músicas ela chega a citar trechos ou fazer homenagens aos seus escritores favoritos.
Em Off to the races onde ela mergulha num relacionamento trágico com um homem mais velho e problemático ela cita uma passagem inicial do livro Lolita (1955) de Vladimir Nabokov:
“Luz da minha vida, fogo dos meus lombos.”
Também faz referência aos óculos que a personagem Lolita usava nas adaptações cinematográficas da obra em Diet Mountain Dew:
“Amor, coloque seus óculos em formato de coração”
Em Carmen Lana cita um trecho do livro Um bonde chamado Desejo de Tennessee Williams:
“Confiando na bondade de estranhos.”
Lana também se inspira e homenageia Sylvia Plath em suas letras e poemas. Na faixa hope is a dangerous thing for a woman like me to have ela diz:
“Eu estive por aí andando na minha camisola, o tempo inteiro como Sylvia Plath.”
UM LEGADO ICÔNICO PARA A CULTURA:
Não se pode negar que ao começar a ouvir Lana Del Rey, você vai sair querendo pesquisar e saber mais sobre ela e sobre as figuras que ela cita e homenageia, Lana como que nos educa ao cantar, ela faz os seus fãs apreciarem o que ela também aprecia, a persona de Lana e toda sua estética vai além de algo montado ou maquiado, é a própria na sua mais pura essência artística e conceitual. Com sua discografia impecável, ela nos faz amar, refletir, sentir nostalgia e anseio pelo futuro melhor.
Com todo seu embargo cultural e sua sinceridade nas letras, Lana pavimentou um caminho que antes era estreito para muitos artistas expressarem seus sentimentos e serem eles mesmos sem medo. Não é à toa que a própria Billie Eilish se sente influenciada por Lana, ao entrevistar a própria para a Interview Magazine, ela disse:
“Você abriu realmente o caminho para todos os artistas(…) você mudou a maneira como a indústria da música ouve e vê a música.”
Lana hoje é chamada de rainha do alternativo/indie, um título mais que merecido, calando assim críticos ferrenhos e zombadores que surgiram com o início da sua trajetória. Mas isso não a abalou, só a motivou a continuar criando e inovando.
Como ela mesma disse no seu poema Salamander:
“Minha vida é minha poesia, meu amor é meu legado.”