Moda, Música e Beat Poetry: A Estética Subversiva de Lana Del Rey em Ultraviolence

“Eu juro por Deus que, se você virar um ícone da moda usando jeans e camiseta, eu me mato!” — palavras de Caroline Grant (Chuck), irmã de Lana Del Rey, sobre as escolhas de roupas da cantora. Além de entregar músicas incríveis, Lana Del Rey também chama atenção pelo seu estilo de vestir. Seja com looks icônicos, como sua aparição no Met Gala de 2018, ou com outros nem tanto, como seu característico conjunto de jeans azul e camiseta branca, o estilo de Lana Del Rey se tornou uma tendência entre seus fãs. Não é à toa que, nas ruas, vemos mais fãs da cantora usando jaquetas da Ferrari do que fãs de Fórmula 1.

Cada era ao longo de seus mais de dez anos de carreira traz uma particularidade fashion, e hoje vamos focar na bagagem intelectual que os looks da era Ultraviolence carregam. Descrita por ela mesma como “poesia beatnik sob efeito de anfetaminas,” a era Ultraviolence faz referência direta ao movimento Beat Poetry, mencionado explicitamente em faixas como “Brooklyn Baby.” A Beat Poetry foi um movimento literário e cultural que emergiu nos Estados Unidos durante a década de 1950, impulsionado por poetas como Allen Ginsberg, Jack Kerouac e William S. Burroughs, que buscavam romper com as convenções literárias e sociais da época. O álbum Ultraviolence estabelece uma conexão única com essa herança, tanto nas letras quanto na estética, com Lana adotando um estilo visual que mistura elementos vintage e boêmios, evocando o espírito de liberdade e rebeldia dos Beats. Essa combinação de referências musicais e visuais cria uma narrativa rica, onde moda e música se entrelaçam para refletir a essência subversiva e melancólica da era Ultraviolence.

Lana Del Rey é conhecida tanto por sua música quanto por seu estilo visual, que é sempre cuidadosamente elaborado para complementar a narrativa de seus álbuns. Durante a era Ultraviolence, a estética beatnik se tornou particularmente proeminente. O beatnik, uma figura estereotipada derivada do movimento Beat, era conhecido por trajes simples e despojados que transmitiam uma atitude de desinteresse pelo consumismo da sociedade americana. Lana incorpora esse espírito de maneira sofisticada, combinando a simplicidade das roupas com uma profundidade emocional que reflete os temas de amor trágico, violência e perda presentes em suas músicas.

A escolha do jeans e da camiseta branca, peças que podem parecer banais, adquire uma nova camada de significado no contexto do álbum. Essas roupas representam uma rejeição ao glamour excessivo e à superficialidade, em sintonia com a atitude de indiferença dos Beats em relação às normas sociais. Ao mesmo tempo, o uso dessas peças simples pode ser visto como uma forma de subversão, transformando o comum em algo carregado de significado emocional e cultural. Lana Del Rey, ao adotar esse visual, se alinha não apenas com a estética beatnik, mas também com a filosofia de autenticidade e resistência que era central ao movimento Beat.

A era Ultraviolence de Lana Del Rey, portanto, não é apenas uma exploração musical de temas sombrios e intensos, mas também um estudo de como a moda pode ser usada como uma extensão da arte e da ideologia. O visual de Lana durante esse período reflete uma intersecção entre a cultura pop e a alta cultura, onde a simplicidade das roupas contrasta com a complexidade emocional da música. Ao se apropriar da estética beatnik, Lana Del Rey não apenas presta homenagem a um movimento cultural importante, mas também recontextualiza suas ideias para uma nova geração, mantendo-se fiel ao seu estilo único e inconfundível.

Dessa forma, a era Ultraviolence se torna um exemplo de como a moda e a música podem se entrelaçar para criar uma narrativa coesa, onde cada elemento, desde as letras até as roupas, contribui para uma experiência artística completa. Lana Del Rey, com sua sensibilidade estética e seu profundo entendimento da história cultural, consegue transformar algo tão simples quanto um par de jeans e uma camiseta branca em um símbolo de resistência, autenticidade e beleza trágica, características que definem tanto sua música quanto seu estilo pessoal.

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